Contributos de Jacques Derrida para o Estudo do Auto-Retrato


Resumo

No universo conceptual tão abrangente da produção artística, uma das questões porventura mais fascinantes na abordagem do auto-retrato será averiguar o paralelismo que pode estabelecer-se entre a aparência da individualidade reproduzida e a verdadeira natureza da personalidade interpretada. É nesta circunstância que faz todo o sentido a análise de Derrida na obra “Mémoires d’aveugle - L’autoportrait et autres ruines” (1), na qual centra o seu olhar em torno de três eixos fundamentais: intuição, percepção e visão. Partindo da cumplicidade existente entre o indivíduo cego, no sentido físico do termo, e o artista na produção do seu auto-retrato, desenvolve a sua argumentação com base no paradigma da cegueira do artista ao auto-retratar-se: em cada momento em que se desenha a si próprio, ele não está a ver-se, antes se socorre dos registos da sua memória. Desmontando/desconstruindo noções e conceitos, Derrida aborda o tema do artista simultaneamente como objecto da representação e sujeito a representar. Vê no auto-retrato sintomas de perda, falta, ausência, privação da vista, e daí a conotação que estabelece entre auto-retrato e ruína, assim justificando também o subtítulo da obra.

(1) – 1990, Réunion des musées nationaux, Paris.


Palavras-chave: auto-retrato; universo conceptual; intuição; percepção; visão.